Resumo |
O processo de fragmentação de florestas tem sido freqüentemente relacionado a efeitos deletérios sobre as comunidades bióticas. Tais efeitos seriam: perda de espécies; aumento da proporção de árvores mortas ou danificadas e, em florestas estacionais, uma maior ocorrência de árvores infestadas por lianas. A magnitude de tais alterações tem sido associada principalmente ao tamanho dos remanescentes florestais. Afirma-se que fragmentos pequenos apresentariam um número menor de espécies, pois muitas não sobreviveriam em áreas reduzidas. Além disso, florestas pequenas estariam mais expostas ao efeito de borda, devido sua alta razão borda:interior.
Este trabalho tem como principal objetivo investigar questões associadas à fragmentação de ecossistemas através da análise da composição florística, estrutura de comunidades florestais e distribuição das espécies arbóreas em 11 fragmentos florestais na região da Área de Proteção Ambiental (APA) de Souzas e Joaquim Egídio, município de Campinas, SP, (22°45' a 23°00' S, 47°00' a 47°12' O).
Pretende-se atingir este objetivo através das seguintes etapas:
1. Caracterizar os fragmentos quanto ao tamanho, isolamento e ocupação do entorno.
2. Identificar as espécies arbóreas.
3. Estimar a riqueza de espécies arbóreas, identificar as mais abundantes, mais raras, ou seja, estudar a estrutura de vegetação arbórea dos fragmentos.
4. Elaborar uma listagem das espécies arbóreas que ocorrem nos fragmentos.
5. Verificar a similaridade florística entre os fragmentos.
6. Verificar como as espécies arbóreas se distribuem nos fragmentos analisados e se a distribuição das densidades das espécies varia entre os fragmentos.
7. Estimar a diversidade de espécies arbóreas nos fragmentos estudados.
8. Avaliar se existe correspondência entre os padrões de variação da vegetação e os padrões de variação dos componentes abióticos.
9. Verificar se existe correspondência entre as classificações encontradas na literatura sobre o estado de conservação dos fragmentos com parâmetros qualitativos medidos em campo: índice de cobertura de dossel (obtido através de fotografias hemisféricas), grau de infestação por lianas, ocorrência de fatores de perturbação (fogo, gado e extração de madeira) e da categorização das árvores amostradas.
Os fragmentos escolhidos são fisionomicamente semelhantes entre si e podem ser classificados como floresta estacional semidecidual. Dez fragmentos têm área entre 10 e 65 hectares (ha) e um fragmento, 244,9ha. Os fragmentos com área inferior à 65ha foram agrupados em três classes de tamanho: 10-15ha (pequenos), 16-25ha (médios) e 35-65ha (grandes).
A amostragem será feita através do método de pontos quadrantes. Em cada um dos fragmentos serão amostrados 125 pontos quadrantes. No fragmento de 244,9ha serão feitas três amostragens de 125 pontos em três áreas distintas.
Em cada ponto, serão incluídos os indivíduos arbóreos com diâmetro à altura do peito (DAP) = 5cm e com DAP = 10cm. Dessa forma, serão obtidos 2 conjuntos de dados com 500 indivíduos por amostragem. Um conjunto contendo os indivíduos com DAP = 5cm e outro contendo somente os indivíduos com DAP = 10cm.
Cada indivíduo amostrado será categorizado, segundo seu estado de dossel, em árvore do futuro (indivíduos jovens e/ou em crescimento), árvore do presente (indivíduos adultos) ou árvore do passado (indivíduos danificados ou morrendo), segundo definições propostas por Oldeman (1989).
Os indivíduos serão classificados quanto ao grau de infestação de seu dossel por lianas. Serão utilizadas quatro classes de porcentagem de infestação da copa do indivíduo arbóreo (0-25%, 26-50%, 51-75% e 76 a 100%).
Além disso, será avaliado o índice de cobertura de dossel, através de fotografias hemisféricas. Tais fotografias calculam a área que o dossel ocupa no hemisfério total da foto, possibilitando identificar com precisão áreas onde o dossel é mais fechado e áreas onde é mais aberto ou "perturbado".
A análise da composição florística e estrutural dos fragmentos, bem como sua similaridade permitirá investigar se fragmentos pequenos realmente suportam um menor número de espécies. Se a fragmentação seleciona espécies segundo o tamanho do habitat e como a estrutura da vegetação varia segundo o tamanho da floresta. Usando a categorização dos indivíduos quanto a seu estado de dossel, grau de infestação por lianas e índice de cobertura de dossel, pretende-se avaliar se a ocorrência de árvores danificadas ou morrendo (árvores do passado), árvores muito infestadas por lianas e baixa cobertura de dossel estariam associadas ao tamanho dos fragmentos. Segundo as proposições correntes sobre fragmentação florestal, seria esperado que fragmentos pequenos apresentassem uma maior proporção de árvores danificadas, infestadas por lianas e dossel mais aberto, pois tais fragmentos estariam mais expostos aos efeitos deletérios da fragmentação.
No interior do estado de São Paulo, a manutenção da biodiversidade, depende da preservação e manejo dessas manchas remanescentes. Assim, existe uma necessidade crescente de se utilizar critérios para melhorar a conservação dessas áreas e isso requer um claro entendimento dos problemas ocasionados pela fragmentação e da atual situação desses remanescentes.
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